quarta-feira, 26 de maio de 2010

Prazer

Tinha certeza que o prazer estava nas maiores e nas mais físicas coisas do mundo, até se deparar com um quarto todo preto: chão, paredes e teto. Por dias teve a sensação de repulsa total e achou que só voltaria a sentir prazer quando saísse daquele lugar de carro, escutando seu ipod. No quinto dia, recebeu uma carta, mas não conseguia ler por causa da escuridão. Só sentia a textura do papel, o cheiro da tinta e imaginava ser uma carta de alguém que a amava muito. No sexto dia, recebeu a vista de alguém que não conhecia, mas a pessoa entrou e lhe deu um abraço tão apertado, tão profundo; que ficou o resto do dia imaginando de havia sido uma abraço de amor, de medo ou de compaixão. No sétimo dia, recebeu um livro, mas que também não conseguia ler; só percebeu que era fino e ficou a imaginar a história de amor que ele continha. No oitavo dia, entrou pela porta um pássaro que pois-se a cantar uma música que ela jamais ouvira e ficou tão impressionada com a beleza da melodia que foi capaz de sentir o abraço, o cheiro da carta e a história do livro como se fossem reais. No nono dia não dormiu. No décimo dia, não havia mais pássaro, livro ou carta; mas a porta estava aberta. Saiu correndo, mas não viu carro nenhum, muito menos seu ipod. O desespero e a solidão fizeram ela querer voltar para o quarto preto; mas não tinha coragem... saiu pela porta da frente e viu o mar. Uau. Foi como sentir o mesmo prazer de... o mesmo prazer de... o mesmo prazer de... um abraço profundo...